Lembram-se de que art journal me serve para guardar, dentre tantas coisas, os textos de que mais gosto?
O texto em questão é de autoria de Paulo Leminski, excepcional poeta curitibano, erudito e irreverente. O poema, que veio ao público no livro Polonaises (1980), carrega traços evidentes da poesia marginal da década de 70, apresentando linguagem coloquial, aparente espontaneidade, versos brancos e livres, dentre muitos outros aspectos.
É uma poética sobre o tempo, sobre a desilusão (morte?) dos nossos sonhos efebos. O poeta, ousado, em busca de uma personalidade que o distingue, elege modelos altos e canônicos para se mirar (Homero, Rimbaud, Ungaretti, Lorca, Éluard, Ginsberg são poetas famosos de diferentes nacionalidades) mas, no fim, como as flores, o presente se despetala, murcha em desencanto (sendo "poeta de província", ou seja, poeta de reconhecimento local - deduz-se Curitiba).
Se este texto fosse para a minha vida de literata, eu analisaria o texto sob as luzes da semiologia, estilística, sociologia, psicanálise e da biografia de Leminski. Contudo, basta aqui eu incitar ao leitor sensível que se reconheça no texto, porque todos nós somos flores transitórias. Os sonhos ousados do eu-lírico não nos lembra de nossas quimeras adolescentes? Que, por sua vez, se ofuscam e se apagam com o tempo?